segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Do céu ao Inferno...

Foi numa quarta feira antes do Carnaval de 1991,  tinha um esquema acertado para acampar com uma galera e muita mulherada,  já tinham saído em 6 motos, dois trikes e uma kombi de São Carlos com destino a São Thomé das Letras, apesar da minha confiável surrada companheira, uma Yamaha TX 650 1974, autêntica rat bike amarela suja e desbotada, tratada a chuva e mijo de cachorro,  nunca ter me deixado na mão, a estranha sensação fortemente alertava para que não nos jogássemos desta vez para percorrer os 600 kms na época ainda não duplicada Fernão Dias no trecho do Sul de Minas Gerais, quem já percorreu sabe bem do que estou falando, ainda tinha mais uns 200 e tantos kms de trechos em estradinhas vicinais e desses kms alguns de terra, encharcados pelas águas de fevereiro e março, seria uma árdua pilotagem se os pneus estivessem bons...
Enquanto tomava uma cerveja no Bar do Chinês, eis que aparece um irmão que não via há anos, quase não o reconheci com os cabelos na cara e a barba grande, mochilão pesado nas costas e o sorriso imenso na cara
- "Billy's" puta que pariu mano vamos pegar a estrada!
Por um segundo pensei o cara nem chegou e já quer sair, sinal que tá fugindo de alguma bronca, como irmão é irmão e esse cara já tinha segurado inúmeras paradas minhas, do que fugia não importava pra mim
respondi sem pensar...
-Pode crer, vamos nessa "Chacra"...
O bom e velho amigo estava ali depois de anos e seu propósito era acampar em um pico perto de Piracaia, que faz a divisa entre SP/MG, amarramos as tralhas na moto, tanque cheio e pneu na estrada...percorremos uns 50 kms de asfalto virando a direita estrada de terra adentro, cascalho, areião e sulcos feitos por caminhões, uma maravilha de caminho,  este era o paraíso do que ainda tínhamos para percorrer e a TX firme como um tanque de guerra não peidava pra qualquer morro ou obstáculo a ser ultrapassado... saudosa moto.
Começava a escurecer o foco do farol sujo de lama não iluminava muito, dez ou quinze metros no início de uma descida ingrime, bem ingrime, testei os freios que já estavam fracos e não reponderam ao contento, pensei acho que vai dar bosta, reduzi uma marcha e encarei o donwhill, mais ou menos nos primeiros 150 metros a suspensão dianteira começou a bater fim de curso, o peso das tralhas e do garupa forçavam o guidão e a sensação era de que a velocidade estava alta para a curva em cotovelo à esquerda que vinha nos próximos 300 metros, com o solo instável de pedrisco buracos e terra solta, decidi que seria prudente reduzir mais uma marcha pois os freios já não existiam, desci o pé com força no pedal de cambio com receio da embreagem aquecida não ser eficaz, quando escuto um puta estralo alto e um alivio na pressão do peso nos punhos, com a corrente estourada não havia mais opção a não ser mirar certeiro em um gentil senhor eucalipto e, calculando por baixo, os seus setenta anos, em meio ao trêmulo e desfocado flash do farol, aposto todas as minhas fichas, e por pura sorte a cerca de arame farpado estava um metro barranco abaixo e em nosso pouso perfeito enroscando sobre os arames a velocidade foi bem reduzida chegando a árvore com o impacto amenizado...
O custo de algumas fraturas ósseas e a aposentadoria da guerreira TX 650 compensou a história, que contarei aos filhos e netos e aos sobrinhos filhos deste grande irmão Chacra que depois de muitos anos e muitas outras aventuras partiu para  percorrer novas estradas em outra dimensão...

                                     

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